domingo, junho 27, 2010

As pequenas memórias

Quando soube da morte do Saramago pensei que estava na altura de voltar a ler um livro dele. Logo nesse sábado, ao entrar na Fnac, ia em busca de "O ano da morte de Ricardo Reis", um dos livros mais conhecido dele e que eu nunca li. Andei a folhear vários livros e detive-me no "As Pequenas Memórias". Tendo em conta que estava com outras leituras no momento, parecia-me que "As Pequenas Memórias" seriam mais fáceis de ler. Acabei por não trazer nenhum livro, o objectivo era "O Ano da morte de Ricardo Reis" como tal não me podia deter em vontades súbitas. De regresso a casa e ao procurar os livros de Saramago que tinha (por causa do post anterior) descubro que afinal tinha "As pequenas Memórias ". Mais um que ali estava, que compro e vão enriquecendo a pilha dos "Ainda não li". Quer dizer, agora já não, li-o neste fim-de-semana. Leitura fácil, simples e enriquecedora, de lembranças quentes. Lembranças dele que me remetem para as minhas. Para as histórias dos meus avós de quando também eram crianças. Lembranças minhas de quando era criança.

Aproveite que almocei sozinha em casa e embalada por todas estas lembranças resolvi fazer, para almoço, papas de farinha. Quando éramos crianças, eu e o meu irmão, era o nosso almoço preferido, que tinha de ser sempre pedinchado. Tinha de se verificar uma série de variáveis para que fosse possível atender o nosso pedido, os meus pais não estarem, os dois em casa, ficarmos em casa da minha avós e o meu avó também não almoçar em casa. Papas de farinha não eram almoço para o meu avô. E além disso a minha avó também não era grande fã, fazia por nossa causa. E nós adorávamos.

Pois bem, desde que a minha avó morreu que volta e meio penso em fazer. Nunca o tinha feito. Hoje aventurei-me nisso. Claro que não ficaram yão boas quanto as da minha avó mas tinham um gosto muito similar que me deu muito prazer.

"Tu estavas, avó, sentada na soleira da tua porta, aberta para a noite estrelada e imensa, para ovcéu de que nada sabias e por onde nunca viajarias, para o silêncio dos campos e das árvores assombradas, e disseste, com a serenidade dos teus noventa anos e o fogo de uma adolescência nunca perdida: "O mundo é tão bonito e eu tenho tanta pena de morrer". Assim mesmo. Eu estava lá." - in "As pequenas Memórias", José Saramago.

sexta-feira, junho 25, 2010

Piroso?

Não sei se efectivamente eu não sou uma pessoa romântica ou se o repito constantemente para acreditar nisso. No que a casamentos diz respeito, por exemplo, nunca sonhei com o meu nem nunca me imaginei vestida de noiva. Agora, tenho de confessar que há certas histórias que me deixam com um sorriso parvo na boca. E claro, gosto de finais felizes. Isto tudo para dizer que dei por mim completamente embevecida a olhar as imagens do casamento da Princesa Victoria da Suécia. Não resisti à troca de olhares entre os noivos, à cumplicidade existente entre os dois. E para ajudar à festa dei com este video, que fez sair uma lagrimita.

quarta-feira, junho 23, 2010

10 Junho 2003




Soube da noticia da morte de Saramago a meio da tarde de sexta-feira. A minha primeira reacção foi de tristeza. A segunda foi de incredulidade pelas reacções que fui apercebendo que algumas pessoas tinham. Um chorrilho de ignorâncias que nem vale a pena comentar aqui nem perder tempo com o assunto.

Gosto de Saramago. Enquanto escritor e enquanto ser-humano. Não estando sempre de acordo com as suas opiniões não me faz não reconhecer o grande Homem que era. Não sou grande conhecedora da sua obra e aí, concordo com a autora do blog Rua da Abadia que diz que " a única consolação que tenho (e não é bem consolação) é que me faltam ainda muitos livros de Saramago para ler". A mim também, mas os que li fizeram com que ficasse fã da sua escrita.

Do muito que li sobre Saramago, logo a seguir à sua morte, gostei do que a Yashmeen escreveu no mural do FB: "É demasiado redutor pensar nele como uma cor política ou um escritor polémico, porque dificilmente encontramos outro autor na História da Literatura capaz de criar tramas em que a ficção se entralaça com a História e o onirismo ao ponto de levar o leitor a acreditar numa verdade ficcionada... ".ideias entretanto desenvolvidas neste post.


Recordo a tarde de 10 de Junho de 2003, em que fui à feira do livro de Lisboa e, por acaso, estava lá, numa sessão de autografos José Saramago. Dos muitos livros que podia ter escolhido para comprar ( e pedir para autografar) escolhi o primeiro volume de "Cadernos de Lanzarote". É um género de leitura (na 1ª pessoa, diários, auto-biografias) de que gosto e achei que era o que teria mais lógica pedir para autografar. Assim fiz. Estariam lá, com certeza, muitas pessoas, mas na realidade não me recordo. Não me recordo porque o que me ficou desse minúsculo encontro foi a importância que ele nos dá (dava). Como se nada mais importasse senão nós, eu e ele. Um aperto de mão vigoroso, forte, sentido, que nos prova que aquele era um homem de confiança, humano, recto e nada distante, ao contrário do que muita gente diz que a imagem dele transmite. Não, nada disso, muito terno e muito preocupada com o interlocutor, fazía-nos sentir importantes.

A mim fez. Aproximei-me dele pequenina mas afastei-me sentindo-me muito maior. E é esta capacidade de nos fazer crescer que reside toda a diferença, capacidade essa bem patente nos seus livros.