sexta-feira, março 22, 2013

Leitura: As 23 mulheres do Concilio

Depois de um regressar ás questões da Fé (Igreja?) e me questionar e questionar outras pessoas (Mi?) sobre a questão das mulheres, neste caso na Bíblia, ou como são vistas / tratadas na Bíblia, soube da existência deste livro.

Foi na coluna semanal da revista Única do (Pe?) José Tolentino Mendonça. Ele mencionou o livro e eu fiquei interessada em ler "As 23 Mulheres do Concilio - A presença feminina no Vaticano II" de Adriana Valerio.

É um livro pequeno mas que me levou algum tempo a ler, escrita não muito simples. Eu não sabia que as mulheres tinham participado no Concilio Vaticano II. Foi um presença mais simbólica mas que foi vista com alguma importância. Elas eram auditoras, foram convidadas a assitir mas não podiam participar formalmente, nas discussões, reuniões, etc. Muito do concilio foi decidido nas reuniões auxiliares, nas conversas informais e as mulheres puderem participar em alguns documentos que saíram do Concilio. Não deixo de achar no entanto que, apesar de ser uma mudança, foi apenas um pequeno passo. Há tanto caminho ainda a percorrer. Um dos assuntos chave que se queria discutir era o papel das mulheres na Igreja, mas muito ficou por discutir e fazer:

 " O Concilio não desatou todos os nós nem faltaram reticências e omissões (...) a admissão das mulheres aos ministérios continuam, ainda hoje, a ser tabu na Igreja; sobre elas há tabus e medo de enfrentá-las. (...).
Na comissão chamada a estudar e a dar um parecer sobre a possibilidade de conferir a Ordem Sagrada às mulheres, já tinha havido fracturas e dissabores por causa das limitações impostas à investigação e à discussão, pelas quais se chegou à nota de minoria, ato de protesto de cinco mulheres, que se distanciaram por causa dos métodos intimidatórios e manipuladores. Como conclusão dos trabalhos, declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, fechou todas as possibilidade, mesmo para o futuro, de acesso das mulheres ao ministério sacerdotal. (...)."

O último parágrafo do livro inicia: "Apesar de tudo, o Concílio representou para a mulher a afirmação da igualdade fundamental com o homem (...)" no entanto a mensagem final de Paulo VI dirigida às mulheres foi num sentido diferente "daquilo que as auditoras tinham proposta e auspiciado". Elas não queriam ser tratadas como um grupo à partem, uma categoria distinta, mas tratadas do mesmo modo que os homens.

Tal como referiu uma das auditoras leiga, Pilar  Bellosillo: "A nossa preocupação principal de mulheres foi, precisamente a da 'não-desriminação'. De facto, considero que este critério geral é preferível ao de seguir a tentação perigosa em que caíram alguns dos primeiros textos, isto é, dedicar parágrafos especiais às mulheres". Pilar Bellosillo foi uma das cinco mulheres que assinou a referida nota de minoria, nota essa que foi rejeitada e não entrou no documento final, tendo sido apenas tornada pública em 1987. Pilar Bellosillo foi também a escolhida para ser porta-voz dos Auditores na Aula conciliar, o que não foi permitido em virtude da famosa citação (1 Coríntios 14,34) - "As mulheres estejam caladas nas assembleias".

Foram escolhidas 10 religiosas e 13 leigas. Das leigas há a assinalar ainda Gladys Parentelli que "considerou o Concílio um acontecimento que ela tinha vivido com muitas expectactivas, mas que, ao contrário, se tinham revelado uma fonte de grandes desiluções. (...) Ela considerava que a mulher foi  grande ausente porque, naquela ocasião, a Igreja Católica não tinha deixado de ser androcêntrica e patriarcal (...). [Gladys Parentelli] distanciou-se ainda mais da hierarquia católica, empenhando-se na teologia da libertação e no ecofemenismos."

Por último não quero deixar de referir a presença de outra auditora leiga, Luz Maria Alvarez Icaza, que participou no Concilio juntamento com o marido, aliás graças ao marido, José Alvarez Icaza, que tendo sido convidado para auditor, respondeu que só iria se convidassem também a mulher. Embora soubessem que a presença dos auditores era simbólica e restrita , sem possibilidade de tomarem a palavra ou votar,  José e Luz trabalharam intensamente na Comissão conciliar do Apostolado dos Leigos, participando nas reuniões, estudando, preparando documentos sobre os diversos temas e fazendo propostas. (...) Tinham chamado a atenção dos padres conciliares para a realidade matrimonial (...) tendo Luz chegado a dizer a um padre:
'Não gosto do que está a dizer (...) é enfadonha a expressão de S. Tomás que afirma que o fim primário do matrimónio é a procriação da espécie, e em segundo lugar a complementaridade conjugal e finalmente em terceiro o remédio da concuspiscência: perturba-nos muito a nós, mães de familia, que os filhos sejam fruto da concuspiscência. Pessoalmente tive muitos filhos sem nenhuma concuspiscência, pois são todos fruto do amor".