quarta-feira, junho 23, 2010

10 Junho 2003




Soube da noticia da morte de Saramago a meio da tarde de sexta-feira. A minha primeira reacção foi de tristeza. A segunda foi de incredulidade pelas reacções que fui apercebendo que algumas pessoas tinham. Um chorrilho de ignorâncias que nem vale a pena comentar aqui nem perder tempo com o assunto.

Gosto de Saramago. Enquanto escritor e enquanto ser-humano. Não estando sempre de acordo com as suas opiniões não me faz não reconhecer o grande Homem que era. Não sou grande conhecedora da sua obra e aí, concordo com a autora do blog Rua da Abadia que diz que " a única consolação que tenho (e não é bem consolação) é que me faltam ainda muitos livros de Saramago para ler". A mim também, mas os que li fizeram com que ficasse fã da sua escrita.

Do muito que li sobre Saramago, logo a seguir à sua morte, gostei do que a Yashmeen escreveu no mural do FB: "É demasiado redutor pensar nele como uma cor política ou um escritor polémico, porque dificilmente encontramos outro autor na História da Literatura capaz de criar tramas em que a ficção se entralaça com a História e o onirismo ao ponto de levar o leitor a acreditar numa verdade ficcionada... ".ideias entretanto desenvolvidas neste post.


Recordo a tarde de 10 de Junho de 2003, em que fui à feira do livro de Lisboa e, por acaso, estava lá, numa sessão de autografos José Saramago. Dos muitos livros que podia ter escolhido para comprar ( e pedir para autografar) escolhi o primeiro volume de "Cadernos de Lanzarote". É um género de leitura (na 1ª pessoa, diários, auto-biografias) de que gosto e achei que era o que teria mais lógica pedir para autografar. Assim fiz. Estariam lá, com certeza, muitas pessoas, mas na realidade não me recordo. Não me recordo porque o que me ficou desse minúsculo encontro foi a importância que ele nos dá (dava). Como se nada mais importasse senão nós, eu e ele. Um aperto de mão vigoroso, forte, sentido, que nos prova que aquele era um homem de confiança, humano, recto e nada distante, ao contrário do que muita gente diz que a imagem dele transmite. Não, nada disso, muito terno e muito preocupada com o interlocutor, fazía-nos sentir importantes.

A mim fez. Aproximei-me dele pequenina mas afastei-me sentindo-me muito maior. E é esta capacidade de nos fazer crescer que reside toda a diferença, capacidade essa bem patente nos seus livros.

3 comentários:

  1. Obrigada pela citação ;)

    Um abraço

    Yashmeen

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  2. Este texto está muito claro e bonito. Nunca li Saramago, mas partilho totalmente dos sentimentos que aqui expões.

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  3. Eu separo o autor do artista, porque há um mundo infinito entre ambos. Se gostarmos do autor e da obra, é ouro sobre azul. Se gostarmos apenas da obra, a missão dele, artista, foi cumprida. O que importa é o gesto, e também o artista é alguém em crescimento.

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