segunda-feira, maio 30, 2011

Diferenças?

Começo este post por dizer que não sou leitora assídua do jornal Sol. Não gasto dinheiro a comprar aquele jornal e por acaso também não costumo ver com regularidade a sua edição on-line, aliás não leio jornais on-line. Quer dizer vejo os jornais, as capas, as noticias que merecem destaque mas continuo a preferir o meu ritual de, ao fim-de-semana, ir tomar o pequeno-almoço à pastelaria enquanto calmamente leio o meu jornal. Coisa que na Net não consigo fazer.

O jornal Sol, no entanto, costuma vir-me parar às mãos, sem eu o pedir. Está ali em cima da mesa para quem o quiser levar. E sim, uma semana por outro trago-o comigo. E comecei a fazê-lo há relativamente pouco tempo, por causa da vinda do FMI e com o facto de estarmos em eleições. Alguém me dizia, perante a minha repulsa relativamente ao jornal, à sua linha editorial e principalmente ao seu director, que gostava de ler várias opiniões e não se ficar apenas por "um lado da história". Gostava de fazer essa comparação. Achei interessante e realmente acho benéfico ler várias opiniões, ler diferentes modos de dar uma mesma notícia, ou de olhar para um mesmo assunto e poder ser eu a fazer o meu juízo de valor.

Depois desta explicação para o facto de ler um jornal que de um modo geral não me agrada, veja-se o título da Revista (Tabu) do caderno de Economia (Confidencial), da "Politica a sério" ou da "Viver para Contá-la", vamos ao que me faz escrever este post: a crónica da semana passada, o artigo de opinião do Director do jornal sobre o caso Strauss-Kahn. Nem entro nos detalhes de se aproveitar esta notícia e fazer comparações com esquerda e direita. "Os últimos dias constituíram a prova - se prova fosse necessária - de que os escândalos sexuais não são propriedade de nenhum partido nem de nenhuma área política". Certo, não consigo é fazer a ligação entre esta notícia e as nossas eleições.

O que me causa confusão é a pergunta que fica no ar ao ler esta crónica: o poder-se confundir assédio com "interesse genuíno". Na minha ignorância julguei que isto nunca podia acontecer. "Interesse genuíno", não leva a comportamentos de assédio e assédio nunca é feito por "interesse genuíno". Ou será que estou errada? Se calhar estou e resolvi ir ao dicionário ver o que significada uma coisa e outra:

Para a palavra "assédio" leio "perseguir com insistência, importunar, maçar". E claro "importunar com tentativas de contacto ou relacionamento sexual, molestar". Interesse é uma palavra mais vasta, neste contexto escolho o que, na minha opinião, mais se adequa, " despertar a simpatia de, não ser indiferente a". Genuíno é sincero, não tem segundas intenções menos claras.

Onde é que pode haver semelhança? Em que situações poderemos estar perante um caso de assédio que na realidade é de "interesse genuíno"? Pois parece que afinal podem existir casos assim. Para o provar o autor da crónica faz um resumo de um livro que escreveu para o demonstrar:

" ...a problemática do assédio sexual é muito interessante e complexa, suscitando múltiplas interrogações. Ela deu-me mesmo o mote para o segundo romance que escrevi, chamado Jardim Colonial.

A questão que aí colocava era a seguinte: como separar com meridiana clareza, em certas circunstâncias, o 'assédio' do 'interesse genuíno' por outra pessoa que hierarquicamente depende nós? Dir-me-ão o óbvio: que existe assédio quando alguém usa uma situação de poder para obter favores sexuais de um subalterno. Claro que isto, assim enunciado, não permite dúvidas. Só que na vida raramente as situações são preto ou branco. "

Segue-se o resumo da história, terminando com " Não revelo o fim do livro (que não termina aqui) por respeito pelos que não o leram e que poderão lê-lo um dia.
A questão que se põe nestes casos, portanto, é distinguir o assédio do interesse genuíno. Um chefe pode gostar de uma subordinada e manifestar-lhe esse sentimento sem que isso signifique assédio.
... trata-se de um assunto complexo, delicado, com o qual muitos de nós já foram confrontados, e que enquanto o mundo existir suscitará enormes dúvidas e várias interpretações.
Claro que todos conhecemos casos de assédio evidente, às vezes animalesco, ordinário, brutal, que provoca vítimas e traumas. Casos de chefes e patrões que perseguem as empregadas e as ameaçam com castigos ou despedimentos caso não cedam aos seus instintos - ou as aliciam com promessas, para obterem delas favores amorosos.
Todos conhecemos casos destes, lamentáveis.
Mas não é desses que estou aqui a falar. Onde surgem dúvidas é quando parece haver um verdadeiro interesse de uma pessoa por outra colocada em situação de inferioridade hierárquica ou social."

Crónica completa aqui


Adenda:
Não sou fã do género de escrita do José António Saraiva, a minha opinião não importa não tem interesse. Mas sobre o seu género de escrito vale a pena ler a crónica do Ricardo Araújo Pereira na Visão desta semana.

1 comentário:

  1. Maariah, que salada russa! Por falar em russo, o Boris Yeltsin também era danado para a brincadeira... E o Berlusconi? Esse então é que, mesmo não sendo russo, tanto brinca com a esquerda como com a direita!...
    Bem, o comentário, aquele primeiro excerto a azul, no teu post, é de uma sagacidade fora do comum, sem dúvida!
    E, como diria o Catroga (pessoa de quem não gosto, mas com quem concordo em relação a isto), continuam-se a discutir... minudências sem interesse... Deve ser por causa do assédio, eficaz, das empresas de depilação a laser, que tiveram agora o seu boom... Depilam, depilam porque tá na moda, mas tá visto que não conseguem viver sem eles...

    (não fiz login, desculpa)

    Lélé

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