domingo, fevereiro 24, 2013

Dentro do Segredo - Uma viagem na Coreia do Norte

" Às vezes, tenho medo de estar a criar uma distância insuperável entre mim e as pessoas que me são queridas. O perigo não é a distância físicaa, os milhares de quilometragem que muitas vezes nos separam, o perigo é deixarmos de nos entender.
Mesmo ausentes, continuamos a existir em todos os momentos.
Calculo a diferença horária e lembro-me das pessoas que me são queridas, telefono à minha familia, mas os lugares onde estou, aquilo que ouço e aprendo é muito diferente dos lugares onde eles estão, daquilo que ouvem e aprendem. A experiência que temos do mundo diverge cada vez mais. Utilizamos palavras, são as mesmas, mas têm significados diferentes.
Tenho medo de deixar de entender a minha mãe, tenho medo que ela deixe de me entender a mim. Encontramo-nos na cozinha da casa da minha irmã, ou em almoços de domingo, ou no Natal. Falamos ao telefone:
Está tudo bem?
Cá vamos andado, responde ela e respondo eu. O que significa aquilo que não dizemos?
Tenho medo que os meus filhos nunca cheguem a entender aquilo que lhes conto quando ficamos em silêncio, quando o tempo passa e estamos juntos, no mesmo lugar, eu a conduzir em viagens longas com horizante e eles, ao meu lado, a olharem pela janela, ou quando é fim da tarde, também com horizonte, em silêncio."

In "Dentro do Segredo - Uma viagem na Coreia do Norte" de José Luís Peixoto.

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